Supremo vota ação de inconstitucionalidade do sistema de cotas raciais de universidades; jovens negros acompanharam votação em frente ao prédio do STF
Um grupo de jovens negros acompanhou o julgamento da ação de inconstitucionalidade do sistema de cotas raciais de universidades em frente à entrada do Supremo Tribunal Federal (STF). A Corte disponibilizou dois telões para que os manifestantes pudessem assistir à votação. Sentado na rampa de acesso ao STF, o grupo repudiava a fala dos advogados contrários ao sistema de cotas e aplaudia entusiasmado os discursos dos favoráveis.
Emocionada, a estudante Márcia Morais contou à Agência Brasil que está confiante em relação ao resultado do julgamento. “Quero que as universidades enegreçam”, disse. Márcia foi cotista da Universidade do Rio Grande do Sul e conta que foi coagida por um professor e questionada sobre sua capacidade intelectual de estar entre os universitários.
Na sessão desta quarta-feira (25), o relator da ação, ministro Ricardo Lewandowski, votou pela constitucionalidade da reserva de vagas em universidades públicas com base no sistema de cotas raciais. De autoria do DEM, a ação de inconstitucionalidade questiona o sistema de cotas raciais da Universidade de Brasília (UnB). Após o voto de Lewandowski, a sessão foi suspensa e deve ser retomada hoje (26) à tarde.
Márcia Morais conta que ficou decepcionada com a atitude do professor e da universidade diante da situação. “À época, eu estava para fazer um intercâmbio na Universidade Sciences Po, na França, e eu decidi que nunca mais colocaria meus pés em uma universidade brasileira como aluna”. “Uma das minhas amigas me ligou e disse que tinha muita vergonha de ser gaúcha e do que estava acontecendo na universidade. Na época [em 2006], picharam na universidade ‘voltem pra senzala’ e ela dizia que não se sentia representada pela faculdade”, relatou Márcia.
A estudante, que mora em Rennes, na França, e defende duas teses de mestrado, organizou a Primeira Semana da Consciência Negra da Universidade Sciences Po. “ Lá, eu sempre falei muito sobre políticas de afirmação e eles me questionavam porque eu não tinha voltado para Brasil. Então, comecei a mandar e-mailspara professores aqui no Brasil. Acabei coordenando a semana, com todo o suporte da Sciences Po”.
“Quantos negros você vai encontrar como eu, que, antes de entrar na faculdade, já falava duas línguas, que teve acesso a uma escola marista? Quero as universidades cheias de negros, para que um dia qualquer um possa estudar e não passe o que eu passei.”
Um dos coordenadores do movimento negro no Brasil, frei Davi, também acompanhou a votação ansioso. “Sinto que esse é um processo já pacificado. Os ministros estão suficientemente informados sobre o assunto, devemos ganhar por 9 votos a 2”, previu. “O Brasil só vai ser um país fantástico quando os negros tiverem direitos iguais, quando eles estiverem inseridos dignamente na sociedade, como senadores, deputados, ministros, advogados”.
Agência Brasil