Arqueólogos lamentam a falta de acesso, por parte dos brasileiros, a bens arqueológicos e à história que os cercam. Para o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o arqueólogo Pedro Paulo Abreu Funari, a divulgação de informações sobre artefatos ligados a pré-história e às culturas indígenas e afro-brasileiras é incipiente no Brasil, o que gera desconhecimento do que realmente seja a arqueologia e sua utilidade.

“Quando você vê um edifício, uma pirâmide, um vaso de cerâmica, você tem uma visão do passado mais fácil de ser acessada e de ser sentida do que a história narrada apenas oralmente. A materialidade da arqueologia ajuda também as pessoas a refletirem sobre as criações e os comportamentos humanos”.

Funari lembrou que a arqueologia está geralmente associada a pesquisadores aventureiros e grandes monumentos de países distantes. “Se você perguntar a qualquer um na rua, ninguém vai saber o que é um sambaqui, por exemplo”, ponderou ele, em referência às acumulações formadas por conchas, utensílios e restos de alimentos, habitadas por povos no litoral do Brasil, entre 9 e 3 mil anos atrás.

Ele ressaltou que não basta estudar o material encontrado. “Ele precisa ser socializado, sobretudo, para a comunidade onde esse material foi encontrado. A população local precisa saber que ali existiu uma fazenda, uma tribo indígena, que usavam tais tipos de ponta de flecha para caçar etc.”

A opinião do professor da Unicamp é compartilhada pela diretora do Centro Nacional de Arqueologia do Instituto do Patrimônio Histórico e Nacional (Iphan), Rosana Najaar. Ela lembrou da indignação que sentiu ao ver o desenho de um índio norte-americano apache para ilustrar a cultura indígena brasileira em um livro de história do filho: “As crianças não aprendem arqueologia na escola, nem aprendem direito o papel sobre quem estava aqui antes dos portugueses chegarem, os índios. Então fica muito difícil convencer o cidadão brasileiro de que é importante preservar um caco de cerâmica”, lamentou Rosana. “Não basta divulgar, precisamos educar. E formar os educadores. Os grandes projetos de educação patrimonial são de longa duração,” declarou ela.

Rosana explicou que o Iphan vem buscando, em parceria com o Ministério da Educação, integrar cada vez mais a arqueologia à educação dos brasileiros. “Faz-se arqueologia no Brasil desde os anos 50, o problema é que esse conhecimento não sai do Iphan, não sai da comunidade de arqueologia, mas pretendemos ampliar o canal de divulgação, produzir um conteúdo adequado para os livros didáticos e fomentar esse conhecimento”, explicou.

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