A cansativa trama da autora Glória Peres, “Salve Jorge”, a “novela das oito” da Rede Globo de Televisão que curiosamente passa no horário das nove horas e que não obteve os números de audiência esperados pela emissora, nem de longe lembrando anteriores sucesso da autora, teve o seu último capítulo exibido na noite de ontem (17). O confuso e irritante folhetim televisivo que tentava ligar a favela carioca do Morro do Alemão às terras Turquia e da Capadócia do venerado São Jorge, tendo como pano de fundo o surreal, pra não dizer improvável, romance entre o capitão do Exército Tel e a pobre moça da favela Morena, ao menos conseguiu provocar um debate importante e levar a sociedade pensar no sério problema do tráfico de pessoas. Prova disto foi que o que aconteceu no estado do Rio de Janeiro, onde o Ministério Público Federal (MPF) realizou nesta sexta-feira (17) uma audiência Pública para debater o tema. Confiram abaixo, a matéria da Agência Brasil sobre esta audiência do MPF.

Descobrir os motivos que levaram brasileiros a ser deportados ou “não admitidos” em países estrangeiros pode ser uma forma de identificar e combater o tráfico internacional de pessoas. A avaliação foi feita por organizações da sociedade civil, durante audiência pública, hoje (17), no Ministério Público Federal (MPF), no Rio de Janeiro.

De acordo com a Michelle Gueraldi, advogada do Projeto Trama, organização que atua com pessoas traficadas para exploração sexual ou para o trabalho escravo, o governo federal, por meio do Ministério da Justiça, deveria ter um mecanismo para abordar as pessoas deportadas ou não admitidas assim que elas retornassem ao país, já no aeroporto.

“Existe a necessidade de uma política pública para o migrante que retorna na condições de deportado ou não admitido, nos aeroportos, para que seja possível combater o crime e dar atendimento necessário àquela vítima. A maior parte das vítimas de tráfico [de pessoas] volta nessas condições [de deportado ou não admitido] e precisa de proteção especial”, disse Michelle.

A advogada explicou que é necessária uma abordagem qualificada na identificação de pessoas no aeroporto porque, segundo Michele, a própria vítima não se reconhece como tal. “Se a vítima tiver sido explorada sexualmente, a última coisa que diz é que trabalhava com isso”, ressaltou. De acordo com a advogada, boa parte das vítimas é recrutada por gente próxima, como parentes.

Pesquisadora da tráfico de pessoas pela Universidade Federal Fluminense, Graziella Rocha, que coordenou o órgão do governo estadual para combater esse tipo de crime, também reforça a importância de ter dados sobre o perfil das vítimas. Segundo Graziella, os dados mais confiáveis são os produzidos pela fiscalização de trabalho escravo do Ministério do Trabalho Emprego.

“Eles têm os autos de flagrante de trabalho escravo. Aqui no Rio, antigamente, até 2009, eram migrantes do Norte e Nordeste, trabalhando na colheita da cana, no norte flueminse. Hoje, sabemos de casos de pessoas traficadas para trabalhar na construção civil e em serviços”, disse. Ela mencionou o episódio de um chinês flagrado sendo explorado em uma pastelaria.

Coordenador da audiência pública, o procurador regional dos Direitos do Cidadão, Jaime Mitropoulos, destacou que o objetivo da audiência foi ouvir a sociedade civil e os operadores de direito que trabalham com a questão para orientar a própria atuação de combate ao tráfico. “Esse é um fenômeno dinâmico”, disse sobre a dificuldade de tipificação penal do crime.

Jamil Souza com informes da Agência Brasil