Vladimir Herzog: exposição de cartazes e mostra de cinema e música homenageiam o jornalista morto pela ditadura
Se protestos e manifestações ganham vida atualmente por meio das redes sociais, durante os períodos de ditadura militar, um dos instrumentos recorrentes de agitação e propaganda na América Latina eram os cartazes políticos, que traziam ilustrações, fotos e mensagens de ordem contra os regimes vigentes.
Nesse período, as frases dos cartazes podiam ser simples, como “Resistir por la paz”. Alguns traziam mensagens mais elaboradas, como a que ilustra um cartaz ganhador do Prêmio Vladimir Herzog, em 1979: “Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos civilizados”.
Muitos destes cartazes, produzidos entre os anos de 1960 e 1980 em toda a América Latina, estão agora expostos na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Entre eles, há um mais atual, de 2010, que lembra os desaparecidos políticos no Brasil. A exposição permanecerá no local até 8 de julho, como parte da celebração dos 75 anos de nascimento do jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, morto em 1975 durante a ditadura militar.
A maior parte dos cartazes expostos foi feita por artistas autônomos, mas também é possível encontrar produções de autoria famosa, como o do arquiteto Oscar Niemeyer.
“A proposta é recuperar todo um processo de denúncia da ditadura brasileira e das que foram implantadas nos países vizinhos e também destacar a solidariedade, que faz com que todos esses cartazes tenham um fio condutor comum”, disse Vladimir Sacchetta, curador da exposição.
Segundo Sacchetta, os paineis foram dispostos como se estivessem em um grande muro. “Eles continuam cumprindo sua função de cartaz político, de denúncia, de agitação e de propaganda”, destacou.
Além da exposição de cartazes, os 75 anos de Vlado também serão comemorados com uma mostra de cinema, chamada de Memória e Transformação, onde serão apresentados 49 documentários produzidos a partir de 1950, focado em obras que retratam as lutas de resistência à ditadura militar e aos governos totalitários. Um dos filmes, apresentado na abertura do evento, no dia 31 de maio, foi Marimbás, dirigido pelo próprio Herzog. A película retrata a vida de um grupo que sobrevivia da pesca no Posto 6, em Copacabana, no Rio de Janeiro e que existe até hoje no local.
A exibição de filmes ocorrerá entre os dias 19 de junho e 8 de julho, na Cinemateca, e entre os dias 29 de junho e 5 de julho, no Cinesesc. No dia 8 de julho, o homenageado da mostra, o cineasta chileno Patricio Guzmán, vai apresentar seu filme Nostalgia da Luz, seguido por um debate.
Já entre os dias 29 de junho e 1º de julho será apresentado, no Auditório Ibirapuera, a cantata O Diário de Anne Frank. A obra, de autoria de Leopoldo Gamberini (1922-2012) e de Otto Frank, pai de Anne, conta um pouco da história da menina que foi vítima do Holocausto na 2ª Guerra Mundial. A cantata será apresentada em versão integral, com orquestra sinfônica, coral com 110 cantores, bailarina, solista e recursos audiovisuais. A orquestra será regida pelo maestro brasileiro Martinho Lutero.
Para finalizar o evento, no dia 28 de junho, haverá um encontro para discutir e compartilhar as experiências de países latino-americanos no resgate da memória e justiça, além da percepção judaica sobre o Holocausto.
Para Ivo Herzog, filho de Vlado e diretor executivo do Instituto Vladimir Herzog, os eventos são muito importantes também por retratarem temas que vão permear os trabalhos da Comissão da Verdade. “A maioria dos brasileiros de hoje nem havia nascido quando essas coisas aconteceram. A ideia é que [por meio das atividades culturais] essas pessoas conheçam, façam sua reflexão e comecem a entender porque é importante para uma nação conhecer sua história e porque é importante que o Estado preserve essa memória e comece a contá-la agora por meio da Comissão da Verdade”, disse Herzog. “A grande importância da memória é que ela impede que coisas ruins voltem a acontecer. Se as pessoas esquecem, elas [coisas ruins] podem acontecer de novo.”
Agência Brasil