Poesia exploratória a você

Quem alisa meus cabelos?
Quem me tira o paletó?
Quem, à noite, antes do sono,
acarinha meu corpo cansado?
Quem cuida da minha roupa?
Quem me vê sempre nos sonhos?
Quem pensa que sou o rei desta pobre criação?
Quem nunca se aborrece de ouvir minha voz?
Quem paga meu cinema, seja de dia ou de noite?
Quem calça meus sapatos e acha meus pés tão lindos?
Eu mesmo.

Nesta sexta-feira (27) o Brasil perdeu o grande escritor, humorista, desenhista, dramaturgo, jornalista, e tradutor, Millôr Fernandes. Ele morreu aos 88 anos, à noite em casa, em Ipanema, na zona sul do Rio, de falência múltipla dos órgãos e parada cardíaca. “O Brasil ficou mais burro” disse consternado o colega escritor Luis Fernando Veríssimo.

Millôr Fernandes foi um dos fundadores do jornal O Pasquim, que se tornou emblema da crítica à ditadura militar no Brasil (1964-1985).