“Tudo nosso, Nada deles”: Caetano Veloso se irrita com matéria da TV Bahia que cortou nomes de Kannário e Camafeu
O episódio é um exemplo de desonestidade com o público. Afinal, por que a Rede Bahia censurou os nomes do cantor de pagode Igor Kannário e de Paulinho de Camafeu na entrevista exclusiva que Caetano Veloso concedeu àquela afiliada da Rede Globo?! Sobre a reportagem, exibida nesta sexta-feira (13), o cantor escreveu uma carta publicada no Facebook onde relata o episódio e demonstra sua clara irritação com o que foi ao ar depois corte da TV Bahia.
Segundo Caetano, o que o motivou a conceder a entrevista foi oportunidade de mencionar a importância do artista Paulinho Camafeu não só para o Carnaval e o Axé Music, mas, para as lutas dos negros na Bahia pela valorização de sua cultura e identidade. Paulinho de Camafeu é um dos precursores da Axé Music e, ao lado de Luiz Caldas, é autor de “Fricote”.
“O que vi na TV depois foi uma conversa genérica sobre axé music e nada sobre Paulinho Camafeu ou Kannário. Por que cortaram o nome de Kannário?”, disse Caetano.
Para o autor “Chuva, suor e cerveja”, música composta ainda no exílio e que marca seu retorno à Bahia e ao Carnaval de 1972 (período de ferrenha censura e perseguição por parte do Governo Militar), a entrevista concedida à Wanda Chase, da TV Bahia, foi editada com cortes em partes importantes e mudou o teor da reportagem. “Não admito que os baianos não fiquem sabendo que eu o fiz”, pontuou.
É mais que justa a irritação de Caetano Veloso em vista da censura da TV Bahia. Afinal, por que a televisão da família do prefeito Antonio Carlos Magalhães (ACM) Neto não gosta do cantor de pagode Igor Kannário?! Caetano divulgou o pecado da emissora baiana na sua página na rede social e disse, apropriadamente, que “o jornalismo de televisão (assim como os outros) precisa mostrar honestidade para receber do público a confiança que deseja”.
A seguir, uma parte da carta indignada de Caetano Veloso.
“Só por causa dele [Paulinho Camafeu] aceitei, por sugestão de Badá, falar com uma jornalista da TV Bahia. Era Wanda, cafuza do norte do país que virou baiana, pessoa de quem gosto e em quem confio. Quando a ouvi dizer que me perguntaria sobre axé music, teimei em que o assunto era Paulinho Camafeu. Mas como não há um sem o outro, fui maleável. Falamos sobre Paulinho. E ela me perguntou se acho que a música de carnaval de Salvador passa por uma crise. Respondi que pode haver crise, mas que eu sou incuravelmente otimista quando se trata de axé. Basta-me que haja uma canção como a da Rainha Má de Daniela e que se afirme a força do pagodão, “do Harmonia a Kannário”. Pois bem. O que vi na TV depois foi uma conversa genérica sobre axé music e nada sobre Paulinho Camafeu ou Kannário. Por que cortaram o nome de Kannário? A Bahia precisa saber que foi o primeiro nome que escolhi para colocar junto do do Harmonia. Amo o Psirico. Repeti o nome deste grupo como complemento ao que já tinha dito, mostrando que não desprezo (ao contrário) o grupo de Márcio Vítor. Mas Kannário foi o nome que proferi primeiro e não admito que os baianos não fiquem sabendo que eu o fiz. O jornalismo de televisão (assim como os outros) precisa mostrar honestidade para receber do público a confiança que deseja. Se temos de defender a liberdade de imprensa, que comecemos por exigir da imprensa mais responsabilidade.” (Caetano Veloso)”
Jamil Souza
