Sem nenhuma proteção, em pé e sob um sol intenso as pessoas disputam a pouca sombra de um poste de iluminação pública enquanto esperam os ônibus coletivos urbano de Feira de Santana. Localizado a poucos metros depois do contorno ou rotatória que serve de limite entre o bairro Tomba e a Avenida João Durval Carneiro, além da pequena placa com o nome “ônibus” pendurada no poste que fica num passeio irregular na esquina da avenida com a Rua Tupinambá, nenhuma outra estrutura existe para nos fazer lembrar que aquele local é um ponto de ônibus devidamente reconhecido pela prefeitura (veja fotos).  A espera, normalmente longa, pode ser pior caso o tempo mude e chova. Nesse casso o velho “poste de luz” de nada serve. Este flagrante do desrespeito para com o cidadão feirense foi registrado no início da tarde dessa segunda-feira (10).

Ponto de ônibus revela o descaso com o passageiro do transporte coletivo em Feira de Santana. Nenhuma estrutura existe além da pequena placa com o nome “ônibus” pendurada no poste. (Foto: Jamil Souza)
Ponto de ônibus revela o descaso com o passageiro do transporte coletivo em Feira de Santana. Nenhuma estrutura existe além da pequena placa com o nome “ônibus” pendurada no poste. (Foto: Jamil Souza)

Os trabalhadores, os estudantes e tantos outros cidadãos feirenses que necessitam pegar o ônibus coletivo naquela região têm de enfrentar essa situação todos os dias. Este mesmo ponto de ônibus já contou com uma pequena estrutura composta de um pequeno banco e cobertura. E já passou por três mudanças de local. Inicialmente, o ponto de ônibus  funcionava na Rua Pedro Américo (Tomba), próximo à rotatória citada anteriormente. Tendo sido mudado para as proximidades da Escola Municipal Ana Brandoa, dentro da rotatória onde funcionou por vários anos e até ser transferido para o local atual.

Este é apenas um dos muitos problemas enfrentados diariamente pelos usuários dos ônibus do transporte coletivo urbano de Feira de Santana. A cidade já sofre com o aumento de carros e motocicletas no trânsito, chegando a travar em várias horas do dia. E é grande o sofrimento e a humilhação dos trabalhadores e estudantes que usam o transporte público. Sendo que, entre as principais reclamações, estão: os frequentes atrasos; os ônibus transportam mais passageiros que o limite recomendável; passageiros viajam espremidos e de pé; frota composta de ônibus velhos e mal cuidados e que, não raro, acabam quebrando no meio do caminho.

Mesmo com a redução da tarifa, o preço na passagem de ônibus em Feira de Santana ainda é uma das mais caras do Nordeste. Mais recentemente, o empresariado do Sistema de Transporte propôs um novo aumento da tarifa, que poderá custar R$ 2,94. O decreto que reduziu o preço da tarifa de R$2,50 para 2,35 entrou em vigor no dia 12 de agosto de 2013. Foi uma tentativa do governo municipal de esvaziar as discussões em torno da mobilidade urbana, que exige melhorias ou mudanças mais profundas no sistema de transporte e uma resposta aos vários protestos ocorridos no ano passado em todo Brasil, que aconteceram também em Feira de Santana.

A longa espera enfrentada pelas pessoas que necessitam fazer uso do transporte coletivo em Feira de Santana não é novidade. Como bem atesta esta foto tirada no dia 23 de outubro de 2012, a estrutura que existia no ponto de ônibus desapareceu. (Foto: Jamil Souza)
A longa espera enfrentada pelas pessoas que necessitam fazer uso do transporte coletivo em Feira de Santana não é novidade. Como bem atesta esta foto tirada no dia 23 de outubro de 2012, a estrutura que existia no ponto de ônibus desapareceu. (Foto: Jamil Souza)

O governo do prefeito José Ronaldo ainda anunciou como solução para o caos do transporte público na cidade a construção do “Bus Rapid Transit”, ou simplesmente BRT, uma espécie de veiculo que trafegaria numa via exclusiva. No passado, nem tão distante assim, o mesmo governo apresentou o SIT, Sistema de Transporte Integrado como sendo a solução para os problemas do transporte público na cidade, o que revela ser este um velho problema enfrentado pelos feirenses.

Em Feira de Santana, as manifestações por melhorias no transporte público e que ocorreram no mês de julho do ano passado foram organizadas pelo Movimento Vem Pra Rua FSA. O grupo chegou a parar uma sessão da Câmara de Vereadores e conseguiu a realização de uma audiência pública que aconteceu no dia 5 de julho 2013, tendo por objetivo debater as questões relativas às reivindicações dos estudantes por melhorias na mobilidade urbana. Durantes os protestos, os estudantes também cobraram a criação de uma CPI do transporte público na Câmara Municipal.

Composta por 13 itens, a pauta de reivindicações do movimento tinha algumas das seguintes exigências: redução da tarifa; aumento da frota de ônibus e das vans alimentadoras dos terminais; fim do monopólio do serviço de transporte em Feira de Santana; CPI do transporte público; construção de ciclovias na cidade; reformulação do Conselho de Transporte; reformulação das linhas de ônibus. Além da redução da tarifa e do anúncio do BRT, quase nada mudou.

Jamil Souza