Pesquisa desenvolvida pelo Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (Inctaa), sediado no Instituto de Química na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mostra que a água potável fornecida em 16 capitais brasileiras, onde vivem aproximadamente 40 milhões de pessoas, apresenta contaminação por substâncias que podem ser nocivas à saúde humana.

Os pesquisadores identificaram, por exemplo, concentrações variadas de cafeína, atrazina (herbicida), fenolftaleína (laxante) e triclosan (substância presente em produtos de higiene pessoal). No entanto, as substâncias encontradas não figuram na lista de compostos que devem ser monitorados pelas concessionárias de água, antes de distribuí-la como potável.

“Já dispomos de estudos científicos que apontam que esses compostos têm causado sérios danos aos organismos aquáticos. Está comprovado, por exemplo, que eles podem provocar a feminização de peixes, alteração de desenvolvimento de moluscos e anfíbios e decréscimo de fertilidade de aves”, diz Wilson Figueredo Jardim, professor titular do Instituto de Química da Unicamp, coordenador da área de contaminantes emergentes do Inctaa.

De acordo com o professor, há indícios de que os contaminantes não legislados, especialmente hormônios naturais e sintéticos, como o estrógeno, que podem provocar mudanças no sistema endócrino de homens e mulheres.

A análise da água potável feita pelas concessionários distribuidoras é executada baseado na portaria do Ministério da Saúde (MS) número 2.914, de dezembro de 2011, que determina quais substâncias devem ser monitoradas. A portaria sofre frequentes alterações, em decorrência dos novos compostos que são encontrados nos mananciais, mas, segundo o professor, as mudanças não são feitas na velocidade ideal.

“A parte legal caminha sempre com uma certa defasagem. Alguns compostos não legislados [que não estão incluídos na portaria do MS] começam a aparecer na água de abastecimento e têm trazido uma certa preocupação porque há evidências claras da ação deles nas comunidade aquáticas”, destaca Jardim.

“Nós não temos nada pesquisado sobre a exposição humana a esses compostos, porque é uma exposição crônica e basicamente leva anos para se ter alguma evidência. A gente então tem de esperar muito tempo”.

A pesquisa da Inctaa contou com a participação de 25 pesquisadores da Unicamp, Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) e Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O Ministério da Saúde foi procurado, mas até o fechamento da matéria não havia respondido.

Agência Brasil