Além da música eletrônica, cerca de 30 homens da Polícia Militar resolveram aparecer no evento denominado “Transe no beco” que aconteceu, ontem (6), em mais uma edição das intervenções artísticas e culturais realizadas no Beco da Energia, centro de Feira de Santana. A ação da polícia militar resultou na prisão de 3 pessoas e, pela truculência empregada, levantou uma polêmica acerca de qual deve ser a ação da PM durante as ações culturais que acontecem dentro do beco.

Um vídeo que registra a ação da PM durante a realização do evento “Transe” foi divulgado pelo jornalista Jânio Rego numa rede social e tem causado polêmica. Confira o vídeo . Os comentários de alguns revelam um repúdio à forma como a ação da polícia se desenrolou dentro do beco. Já outros acreditam que a ação foi correta.

Ação da PM durante intervenção cultural no Beco da Energia causa polêmica. (Print de Vídeo)
Ação da PM durante intervenção cultural no Beco da Energia causa polêmica. (Print de Vídeo)

Dentre os que defenderam a ação da PM está o fotógrafo Jóstenes Costa, que escreveu: “Ação legítima e legal”. Em resposta a isso, o poeta e cordelista Kitute Coelho chamou a ação da polícia de palhaçada, e explicou o motivo:

“Ñ vejo como legítima uma ação Q tem apenas o fundamento de constranger pessoas Q estão num evento apenas para praticar e admirar arte e cultura. Ação orquestrada pelos “patrões” da pobre PM Q se sentem incomodados com a independência do local e enviam seus cães de guarda pra intimidar os irmãos Q nada fazem ali além de promover e estimular cultura.

A polícia de Feira tá cansada de saber onde ocorrem os crimes, onde estão as bocas e por onde circulam os assassinos, mas no entanto é mais cômodo pra eles revistar cidadãos de bem num domingo ensolarado. Palhaçada!!”

Ação da PM durante intervenção cultural no Beco da Energia causa polêmica. (Print de Vídeo)
Ação da PM durante intervenção cultural no Beco da Energia causa polêmica. (Print de Vídeo)

Ainda outro que condenou a ação da PM foi o tatuador e artista plástico Marcio Punk, principal articulador das ações que se desenrolam no Beco da Energia, que se expressou assim: “Eu não achei legal a segurança ter que ser dentro do Beco apontando armas para as pessoas que estavam no evento”.

O jornalista Jânio Rego que é um dos entusiastas das ações no beco, viu com normalidade a batida policial no Beco da Energia naquele domingo de intervenção artística. Em resposta a Márcio Punk, ele escreveu: “vamos relevar […,…] o q não pode é virar uma prática dominical” e em seguida chamou a atenção do deputado estadual Zé Neto, “marcando-o” no comentário.

O jornalista concluiu lembrando que não houve batida da PM no evento de música e comida realizado nas proximidades: “a menos de 100 metros na praça da Matriz acontecia um evento com música, palco, comida e bebida…a PM não deu baculejo por lá….mas contínuo relevando e vendo ‘normalidade’ na ação policial no Beco….”

O advogado Ewerton Monteiro estava presente no evento  disse que houve por parte da PM uma “visível intenção de criminalização” do evento, veja o seu comentário:

“Que a ação de patrulhamento ostensivo da PM é legítima, ninguém duvida, ninguém pode questionar. E é até uma forma de proteção ao local. Agora, na minha humilde opinião, a forma como o policiamento estava atuando, foi sim ilegítima. Isto porque em vez do simples patrulhamento, havia uma visível intenção de criminalização do ato. Com policiais transitando com armas na mão, mesmo sem que uma busca pessoal estivesse sendo feita no momento; com mais de 30 policiais num local e público que comportaria no máximo uns 10 policiais; revistas aleatório que denotava a pura e simples investida nos estigmatizados… Enfim, a polícia é necessária, o policiamento é além de um direito, dever, mas há nuances que devem ser analisadas e, formas de se empregar o serviço eficiente e digno de segurança pública.”

Opinião BBG

Nós do Blog Bahia Geral que acompanhamos de perto as intervenções artísticas no Beco da Energia desde o seu inicio, lamentavelmente não estivemos presentes neste domingo em questão. Contudo, acreditemos que o papel da Policia Militar seja importante para garantir a proteção das pessoas que frequentam o lugar. Principalmente, porque as intervenções acontecem aos domingos quando às ruas que dão acesso ao beco estão vazias e tornam-se perigosas para os que se dirigem ao beco, logo, necessitam de patrulhamento. Mas, é fundamental que a os coordenadores das ações da PM atentem para evitar constrangimentos desnecessários. Famílias inteiras e até crianças frequentam o beco nos dias de intervenção. Não seria nada inteligente agredir ou assustar àqueles a quem se devia proteger.

As ações da intervenção artística, cultural e social empreendidas pelo Movimento O Beco É Nosso foi recentemente contemplado por um edital de cultura do Governo do Estado. (Foto: Jânio Rego)
As ações da intervenção artística, cultural e social empreendidas pelo Movimento O Beco É Nosso foram recentemente contempladas por um edital de cultura do Governo do Estado. (Foto: Jânio Rego)

Vale lembrar que a ação da Polícia Militar aconteceu num domingo em que acontecia mais uma das atividades culturais e artísticas que buscam revitalizar o Beco da Energia. Foi somente depois dessas intervenções iniciadas dia 5 de julho com a mobilização de grafiteiros e artistas plásticos, que o espaço passou a ser notado pelo poder público. O patrulhamento da PM nas ruas adjacentes ao Beco da Energia já foi, inclusive, solicitado em outros eventos. A segurança pública é importante e deve ser bem vinda, o que não dá pra aplaudir são ações truculentas e intimidatórias.

A próxima intervenção artística no Beco da Energia será a última desse ano e vai acontecer no próximo domingo, 13, e somente retornarão em 2016.  As ações da intervenção artística, cultural e social empreendidas pelo Movimento O Beco É Nosso foram recentemente contempladas por um edital de cultura do Governo do Estado. A polícia, que é o aparelho coercitivo desse mesmo Estado, deve atentar para não perseguir ou oprimir a quem deveria proteger. Acreditamos no bom senso dos comandantes da Polícia Militar da Bahia em Feira de Santana.

Jamil Souza