Quem disse que “santo de casa não faz milagre”? Provando que o teatro de Feira de Santana é bom e tem plateia, a peça “Chicos”, escrita e dirigida por Suzana Vega, é sucesso de público em casa e tem contrariado o dito popular. A peça é ganhadora do prêmio Braskem, foi inspirada em canções do grande compositor e escritor Chico Buarque de Holanda e já foi apresentada em Salvador e em outros estados do país. O elenco é composto por atores da Cia. Teatrelados de Teatro.

Li e ouvi dos produtores sobre o sucesso da temporada da peça no Teatro do Centro de Cultura e Arte (Cuca), realizada no mês de agosto passado. Um grande número de pessoas, que não comprava ingressos antecipados, voltava para casa sem assistir o espetáculo.

Tive a oportunidade de ver com meus próprios olhos um desses dias no Cuca em que a fila para comprar ingressos era bastante grande. E fui testemunha do pesar do produtor Edson Porto, ao me afirmar que a maioria dos presentes não mais encontraria ingressos. Enfim, a peça parece fazer jus ao slogan “A comédia que todos querem ver”.

E, embora ainda não tenha assistido nenhuma apresentação da badalada peça, compartilho a opinião de um colega que assistiu Chicos em várias dessas apresentações no teatro do Cuca e teceu sua opinião numa rede social.

O jovem jornalista feirense Caíque Marques é um voraz consumidor de arte. Apreciador da boa música e da boemia de Feira de Santana, se arroga ser conhecedor da obra de Chico Buarque de Holanda (e não duvidem). Ele expressou sua opinião sobre a peça Chicos na sua página pessoal do Facebook. Confiram a seguir a íntegra do seu comentário.

Aquela comédia sob medida
 
Quando soube que existia uma comédia inspirada na obra de Chico Buarque fiquei curioso pra saber como se desenrolaria isso. O espetáculo já era bastante conhecido na cidade, mas eu nunca tive a oportunidade de assistir. Não cheguei alheio ao texto porque a obra do grande e lindo mestre de olhos azuis que gagueja ao dar entrevistas já estava na minha vida desde criança. Minha mãe até hoje se emociona e chora com O Meu Guri. E olhe que eu nasci faz quase três décadas.
 
Janete é uma personagem interpretada pela atriz Lorena Porto. (Foto: Divulgação / G.Dourado)
Janete é uma personagem interpretada pela atriz Lorena Porto. (Foto: Divulgação / G.Dourado)
Cartaz da peça Chicos. (Divulgação)
Cartaz de Chicos. (Divulgação) Clique p/ ampliar!

Com um elenco grande, além da comédia e do riso, Chicos traz bons momentos de dança e figurinos interessantes consonantes com a luz.

Uma vez ouvi outro Chico, o Anísio, um dos maiores humoristas do país, quiçá o maior, dizer uma frase de não lembro quem, mas que me marcou profundamente. Professava: O humor é tudo, é até engraçado. Chicos me traz perfeitamente essa sensação. Denuncia a família pobre que a mulher, maltratada pela vida, pela bebedeira do marido e ainda tendo que cuidar da educação dos filhos, com toda sua brabeza que pode ser entendida como defesa, tem seus momentos de fraqueza e zelo.
 
O espetáculo aborda com humor delatório as tendências adolescentes da periferia, os anseios de conseguir o que o mundo capitalista oferta insistentemente de bom grado, todavia fora da realidade. A labuta diária de sobreviver em comunidade, interação dos vizinhos e a falta de privacidade dos conglomerados residenciais. Traz à baila a questão dos filhos criados sem pai, onde as mulheres sem direito ao aborto vivem quase mortas – esperando paradas e pregadas na pedra do porto- batizando o filho com nome do salvador pra ver se a divina providência olha por ele.
 
Ariano Suassuna dizia que a astúcia é a coragem do pobre. O malandro tão falado por Chico Buarque é muito do pobre que precisa da astúcia pra viver. Chicos está repleto de risos da própria desgraça, da desgraça alheia e de como viver ao Deus dará pode ser tudo, até engraçado. E quem vive no limite muitas vezes recorre a uma gelada pra refrescar o calor dos problemas cotidianos. O problema é que nesses tempos de crise de tantas naturezas, nós temos tomado todo dia – e não é cerveja. Nesse caso, a melhor solução é rir e rir, porque senão ninguém segura esse rojão.”
 

Caíque Marques é um jornalista feirense. Sujeito sensível e apaixonado por música e outras variações da arte, é sempre um crítico ácido e ferrenho, quem recebe um elogio seu deve, e com justiça, sentir-se laureado. Enfim, Caíque Marques é um “chato” querido.

Serviço:
O que: Peça teatral “CHICOS – A Comédia que Todos Querem Ver” / Censura: 12 anos
Quando: Nesta quinta-feira, 24/09, às 20h
Onde: Teatro Amélio Amorim (Av. Presidente Dutra, 2.222, Centro – Feira, BA.
Quanto: R$ 40,00, Ingressos no Balcão Boulevard Shopping, Zen Estética no Millenium Mall e no próprio teatro – Mais informações: (75) 9129-1884
 

Jamil Souza